Monday, November 07, 2005

País dos mortos

PAÍS DOS MORTOS


À ESPERA DE MECENAS

“tienes los sueños demasiado claros,
te hace falta una filosofia fuerte”.
Octavio Paz

“Lusum it Maecenas, dormitum ego Vergiliusque;
namque pila lippis inimicum et ludere crudis”.
Horácio



PEQUENO CANTO PARA EVOCAR SOPHIA

Para as honras da agonia
vi-te chegar em triste carruagem
como pés no outono sobre a folhagem
tão frágil e trágica Sophia.
Para as honras dessa triste pia
vi-te suspirar com pálida imagem
e buscar inquieta a última viagem
em lágrima pequena, breve e fria.
Por séculos o sacrifício da vontade
vi-te suspirar ainda nominando
com fina honra e verdade
fechando a era de Rolando
Ó Sophia muito além da Trindade
Ó luz que morre, corre iluminando.


INCIPIT

E veio num triste dia
o espírito de Sophia
e mandou-me abrir a porta
desta ópera morta
e ouviu-se então muitos risos
iguais a muitos paraísos
e também tantos raios
de muitos esquecidos maios
e deu-se assim a festa
que foi bela e funesta
e ali extraiu-se a bebida
doce da palavra dormida
e evocou-se todos os verbos
por todos os campos acerbos
onde foi deitada a semente
de um trigo clarividente
e assim fez-se o pão
da última distribuição
e esta foi a graça
que desatou a vil mordaça
e o morto fez-se vivo
neste plano recitativo
e assim pôde o poeta
exaurir o antipoeta
vivendo o mortal
que tal a morte e é real
e só assim pode um arado
arar verbo encarnado.

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