Monday, November 07, 2005

Carta

CARTA

Entendo que a metáfora é a totalidade do poema e que seu ser é essencialmente feminino: a poesia.

A relação do poema com a poesia é a mesma que se dá no arquétipo do par de opostos: feminino/masculino. Porém, no contexto do poema, por se tratar de um fazer humano, nem sempre a relação é complementar. No entanto, é natural que os opostos sempre se procurem e, às vezes, não se encontrem. O procurar é uma das mais intensas necessidades humanas. Neste sentido, um poema é, talvez, a mimese que mais se aproxima dos conteúdos da psique do homem.

Na grande metáfora que um poema é, cabem todos os cantares e, em essência, ele não reconhece relações de perda ou ganho: seu poder é instável ou inexistente, porque é o mais coletivo dos organismos verbais superlativos.

Inspiração é um abismo. Nele, liberdade e conhecimento correm fundo. O abismo é de toda a tribo. O ofício do poeta é descer nesse abismo: um poeta é todos os homens da sua tribo.

Deus, Amor e Morte: penso que ainda são as forças que movem a vida. O primeiro por dar um sentido ético e resistência anímica; o segundo, porque possibilita o sonho e o ideal; o terceiro, porque é a cessação de todas as ilusões.

Sei de coração todas estas idéias. Contudo, entre a certeza de um Saber e a incerteza na experiência do Fazer, fico com o último. Porque em vida nada substitui a ação. E mesmo em se tratando de palavras é preciso pôr a mão na massa e, frequentemente, também na merda. Porque para a poesia toda palavra é ato e verdade, é a própria luz do ser e o seu símbolo.

João José de Melo Franco

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