Monday, November 07, 2005

País do amor

PAÍS DO AMOR


CANTIGA DE AMAR

Onde dormem estrelas
não apacienta meus sonhos
saber se é lá o porto prometido da paz

As nuvens passam com os dias:
insônias durante a noite e a impossibilidade de amar...
adiam paraísos, lá, além do teto nublado,
e aqui, onde o sol só se põe para os ricos

Os cabelos claros, os olhos escuros: pássaro futuro
fugindo sem parar

No correr dessa viagem
o animal simbólico em que nos transformamos
ruge feroz, no entanto é triste

Em todas as lutas pensa que vai tocar
a parede do perdão,
lá onde deve estar inscrito o teu nome junto com o verbo amar

Mas o sono não vem, irmão, nem o fim do sonho
O possível não nasce nos campos como o arroz
nem é grão com que se possa alimentar

Contudo, resta sempre a mesma palavra
boiando no claro-escuro desses dias
Solitário signo, persiste em um sentido e nome,
vaga sem forma, sem norma,
sem lugar

O nome desse périplo:
absurdo o verbo amar.




TODOS OS LUGARES DO MUNDO

Perpétua --- não a eternidade espiritual --- mas a física.
Aquela que em teu corpo se revela nas vísceras e na friez das mãos...

Perpetuidade de sombras --- cabes bem num dia sem sol,
onde os homens se movem absortos de sua felicidade, empurrados pela fumaça dos cigarros...

Perpétua esperança de uma alma branca, embora já roubada pelo escombro do mundo...
por todos os lugares do mundo...
E a hora em eterno avanço, acena com a noite --- não para o enlace desejado dos corpos ---
mas para a fuga da alma, que não pode ver o amanhã.

Perpétua --- berço de palavras esquecidas --- e como é terrivel relembrá-las na miserável
esteira em que o mortal se remexe, porque busca talvez um espírito sincero...

Perpetuidade de desejos...
a eterna conjunção --- glória dissoluta travestida de banquete olímpico ---
em teu seio, o centro entre o nome e a coisa,
o sangue do tempo nos cega em indistinta fome...

No entanto o sono há de vir, em preto --- preto perpétuo...
mas cantinuaremos a caminhar com o cigarro na mão, é certo, e nas quimeras dos sonhos havemos
de encontrar o braço do espírito
e aí sorriremos aliviados
por então recordar que a vida é demasiado breve
para não perpetuar-se nas tempestades da paixão.




O RISO

Quem ri é o tempo.
O puro riso de uma concepção profana.
Mãe de todas as luas,
Pai de todos os sóis,
Cratera de todos os homens.
O que não começou
senão quando eu comecei.
Mas que não finda
Mesmo quando findo.
Como este rosto de mulher
Percorrendo a minha memória,
Este pedaço de pão
secando através do dia,
no beijo risível de cada hora.

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