Monday, November 07, 2005

País de si-mesmo

PAÍS DE SI-MESMO


ATHENA, PÁLIDA DEUSA

Athena, pálida deusa,
recusei-te os bronzes d‘armadura e cândidos olhos
pela idéia de Ulisses, ó fundador amoroso e familiar,
que pela família navegou desde a desgraçada Tróia
e inaugurou --- lá onde cantavam sereias ---
o rito que transforma o herói em pai, o homem em deus.
Ó penélopes, eternas tecelãs!
Ó telêmacos, fura-diques do humano tempo!

Athena, pálida deusa, vem nessa manhã tropical
assentir em meu peito atlântico
o clamor de um guerreiro
que, sem família nem mesmo trágica sereia,
perde agora o sentido dos périplos
na misérrima aventura de sem-deuses ser.




PÉRIPLO

É noite e as vísceras ainda empurram a máquina de ser.
É noite e o ser insiste , víscero, no coexistir.
É noite e a noite sonha e os sonhos insistem em vir.
É noite e ser ou não ser redunda, é uma velha canção.

Mas, que é a vida senão velha e canção?

Eis aqui... o coração do ator e encena um velho ato...
São velhas palavras, velhas roupagens.
Não resolvemos, persona, o que fomos nem o que seremos.
Ser, não ser, talvez o nada...
Morrer, dormir, sonhar...
Morrer, óbvio ato.
Dormir, enquanto persistir.
Sonhar... périplo mar! périplo mar!




EVOCÃO DA LUZ

Serei feliz quando for luz.
Quando a luz for a mão
que laça a chuva de ouro
do Deus Sol! do Deus Sol!

Serei feliz quando for luz.
A última luz.
Imensa luz.
A luz só.

Serei feliz quando for luz.
Quando a luz for o não
No dia que começa com raios de sol.

Serei feliz quando for luz.
Quando a luz for na praça outra face do girassol.

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